terça-feira, 20 de março de 2018

Falando de Sansão


Falando de Sansão.
A história de Sansão é, para mim, uma das mais ricas da Bíblia, e também uma das mais tristes.
1) A primeira observação que eu faço ao iniciar a história de Sansão é o valor da aliança de Deus com os pais de uma criança. O voto de nazireu pelo qual Sansão viveria não foi um voto dele com Deus. Foi um voto que partiu de Deus em direção aos seus pais. Desde o ventre ele era separado, consagrado (Juízes 13:5).
Semelhantemente, João Batista também foi envolvido pelo Espírito de Deus ainda no ventre de sua mãe. Não foi uma escolha pessoal realizada após uma detalhada análise teológica. O Espírito Santo simplesmente o envolveu e ele ainda era um embrião.
Como eu gostaria de achar graça diante de Deus de tal forma que meus filhos serão cheios do Espírito ainda no ventre e consagrados ao serviço do Senhor desde o nascimento.
2) Outra observação que podemos fazer é quanto à atipicidade da liderança de Sansão. Ele não liderou um exército como Otiniel, Eúde e Gideão. Sansão foi usado individualmente.
3) Uma terceira observação e quanto à atipicidade do nazireado de Sansão. Ser nazireu era um voto que qualquer homem em Israel poderia fazer, voluntariamente, para consagrar-se ao Senhor de forma mais intensa por algum tempo. O Nazireado era, portanto, um voto voluntário, temporário e exigia: abstinência dos frutos da videira, distância dos mortos e não cortar o cabelo.
Interessante perceber que a consagração de Sansão não foi voluntária e não seria temporária. Sansão seria Nazireu desde o ventre da sua mãe, e assim o seria por toda a vida. Pelo menos, deveria ter sido. Além disso, este juiz violou todas as exigências do voto: bebeu nas suas bodas (a expressão “dar um banquete” sugere isso); teve contato com coisas consideradas imundas (como o mel que estava no corpo do leão morto) e teve sua cabeça raspada por Dalila.
Sansão desprezou o nazireado do qual deveria se orgulhar. Ele havia sido escolhido para uma consagração ímpar naquele tempo, mas suas escolhas e seus caminhos revelaram seu desejo de agradar a si mesmo, somente. Sansão desdenhou várias vezes das ordens e dos valores estabelecidos por Deus.
Quantas vezes também desprezamos nossa consagração. Quantas vezes somos voluntariamente desrespeitosos para com o Espírito Santo que habita em nós e nos envolvemos com toda sorte de imundícia sem nos lembrarmos da preciosidade que é a Santidade de Deus em nós.
Que esse relato histórico não seja um espelho de nossas escolhas ainda hoje.
4) Outro comentário que comumente é percebido nos textos sobre Sansão o coloca como uma prova de que Deus capacita pessoas com diversos dons e talentos para que essas pessoas sejam usadas para a Glória de Deus. Mas pode acontecer de esses dons e talentos serem usados em contextos meramente egoístas, desviando o foco do verdadeiro sentido dessas coisas.
5) Para mim, uma das coisas que mais chama a atenção é a fraqueza de Sansão diante das mulheres. Sua esposa o persuadiu a ponto de descobrir-lhe o enigma e Dalila o persuadiu a ponto de descobrir-lhe o próprio coração. Um homem tão forte nos músculos e tão frágil diante das manipulações femininas.
A Bíblia nos conta que, semelhantemente, Salomão também caiu na conversa de suas mulheres e se desviou.
 Essas observações feitas por mulheres sábias devem nos direcionar a ter cuidado redobrado no trato com nossos maridos, para que sejamos abençoadoras e construtoras de lares e não destruidoras de vidas e sonhos.
Mas, por outro lado, essas observações feitas por homens sábios devem levá-los a fugir de mulheres que poderão ser tropeço e ruína. Seja a ruína espiritual, seja a ruína emocional, seja a ruína física e material.
6) Acredito que o próprio Sansão não sabia que sua força estava em seu cabelo. Isso porque a Bíblia nos revela que ele “não sabia ainda que já o Senhor havia se retirado dele” (Juízes 16:20). De duas uma: ou ele era um grande imbecil para acreditar que Dalila não raparia sua cabeça (já que ela testou todos os outros métodos anteriores), ou ele achava que não haveria limites para o desprezo com o qual tratava o fato de ser Nazireu.
No momento em que Sansão rompeu o último voto relacionado ao nazireado, a sua força o deixou.
 7) Em Juízes 16:24, encontramos os filisteus se alegrando na derrota de Sansão e creditando-a a dagom, o principal deus deles. Os inimigos de Israel debochavam de Sansão e louvavam a dagom pela vitória sobre ele.
Mas não fora dagom quem trouxera a vitória sobre Sansão. Ele mesmo, o próprio Sansão, permitira que uma prostituta, que já várias vezes demonstrara que o estava testando, descobrisse todo o seu coração, e tudo isso depois de ter desprezado várias vezes o privilégio que lhe fora confiado.
Não foi dagom que venceu, foi Sansão que perdeu.
O dagom não fez nada, as escolhas do próprio Sansão levaram-no ao fim que teve.
Isso nos ensina que nós podemos ser os nossos maiores e mais mortais inimigos. Nossas escolhas levianas e irresponsáveis têm conseqüências sobre nós mesmos e sobre os nossos. Que o Senhor nos ajude a fazer escolhas sábias, responsáveis e reverentes, para que desfrutemos da plenitude da vitória sobre os filisteus.
8) Outra situação que me salta aos olhos é o clamor final de Sansão. Mesmo quando o homem vai fazer a coisa certa e clamar ao Senhor, ele o faz por um impulso de vingança (Juízes 16:28). Embora tenha esse tom egoísta, o clamor final de Sansão parece ser muito sincero e sofrido e o Senhor o escuta e o fortalece novamente.
Isso demonstra que o Senhor nos ouve e nos usa apesar de nossas falhas e fraquezas.
Como é maravilhoso nosso Deus!

A história de Sansão tem ainda milhares de outras observações que podem ser feitas, por ser uma narrativa muito rica em detalhes e em lições para nós. Mas, por meio de uma análise mais detida podemos perceber o declínio moral e espiritual de uma nação inteira. Declínio este que se reflete no caráter do 12º juiz de Israel.