Falando de Sansão.
A história de Sansão é, para mim,
uma das mais ricas da Bíblia, e também uma das mais tristes.
1) A primeira observação que eu
faço ao iniciar a história de Sansão é o valor da aliança de Deus com os pais
de uma criança. O voto de nazireu pelo qual Sansão viveria não foi um voto dele
com Deus. Foi um voto que partiu de Deus em direção aos seus pais. Desde o
ventre ele era separado, consagrado (Juízes 13:5).
Semelhantemente, João Batista
também foi envolvido pelo Espírito de Deus ainda no ventre de sua mãe. Não foi
uma escolha pessoal realizada após uma detalhada análise teológica. O Espírito
Santo simplesmente o envolveu e ele ainda era um embrião.
Como eu gostaria de achar graça
diante de Deus de tal forma que meus filhos serão cheios do Espírito ainda no
ventre e consagrados ao serviço do Senhor desde o nascimento.
2) Outra observação que podemos
fazer é quanto à atipicidade da liderança de Sansão. Ele não liderou um
exército como Otiniel, Eúde e Gideão. Sansão foi usado individualmente.
3) Uma terceira observação e
quanto à atipicidade do nazireado de Sansão. Ser nazireu era um voto que
qualquer homem em Israel poderia fazer, voluntariamente, para consagrar-se ao
Senhor de forma mais intensa por algum tempo. O Nazireado era, portanto, um
voto voluntário, temporário e exigia: abstinência dos frutos da videira,
distância dos mortos e não cortar o cabelo.
Interessante perceber que a
consagração de Sansão não foi voluntária e não seria temporária. Sansão seria
Nazireu desde o ventre da sua mãe, e assim o seria por toda a vida. Pelo menos,
deveria ter sido. Além disso, este juiz violou todas as exigências do voto:
bebeu nas suas bodas (a expressão “dar um banquete” sugere isso); teve contato
com coisas consideradas imundas (como o mel que estava no corpo do leão morto)
e teve sua cabeça raspada por Dalila.
Sansão desprezou o nazireado do
qual deveria se orgulhar. Ele havia sido escolhido para uma consagração ímpar
naquele tempo, mas suas escolhas e seus caminhos revelaram seu desejo de
agradar a si mesmo, somente. Sansão desdenhou várias vezes das ordens e dos
valores estabelecidos por Deus.
Quantas vezes também desprezamos
nossa consagração. Quantas vezes somos voluntariamente desrespeitosos para com
o Espírito Santo que habita em nós e nos envolvemos com toda sorte de imundícia
sem nos lembrarmos da preciosidade que é a Santidade de Deus em nós.
Que esse relato histórico não
seja um espelho de nossas escolhas ainda hoje.
4) Outro comentário que comumente
é percebido nos textos sobre Sansão o coloca como uma prova de que Deus
capacita pessoas com diversos dons e talentos para que essas pessoas sejam
usadas para a Glória de Deus. Mas pode acontecer de esses dons e talentos serem
usados em contextos meramente egoístas, desviando o foco do verdadeiro sentido
dessas coisas.
5) Para mim, uma das coisas que
mais chama a atenção é a fraqueza de Sansão diante das mulheres. Sua esposa o
persuadiu a ponto de descobrir-lhe o enigma e Dalila o persuadiu a ponto de
descobrir-lhe o próprio coração. Um homem tão forte nos músculos e tão frágil
diante das manipulações femininas.
A Bíblia nos conta que,
semelhantemente, Salomão também caiu na conversa de suas mulheres e se desviou.
Essas observações feitas por mulheres sábias
devem nos direcionar a ter cuidado redobrado no trato com nossos maridos, para
que sejamos abençoadoras e construtoras de lares e não destruidoras de vidas e
sonhos.
Mas, por outro lado, essas
observações feitas por homens sábios devem levá-los a fugir de mulheres que
poderão ser tropeço e ruína. Seja a ruína espiritual, seja a ruína emocional,
seja a ruína física e material.
6) Acredito que o próprio Sansão
não sabia que sua força estava em seu cabelo. Isso porque a Bíblia nos revela
que ele “não sabia ainda que já o Senhor havia se retirado dele” (Juízes
16:20). De duas uma: ou ele era um grande imbecil para acreditar que Dalila não
raparia sua cabeça (já que ela testou todos os outros métodos anteriores), ou
ele achava que não haveria limites para o desprezo com o qual tratava o fato de
ser Nazireu.
No momento em que Sansão rompeu o
último voto relacionado ao nazireado, a sua força o deixou.
7) Em Juízes 16:24, encontramos os filisteus
se alegrando na derrota de Sansão e creditando-a a dagom, o principal deus
deles. Os inimigos de Israel debochavam de Sansão e louvavam a dagom pela
vitória sobre ele.
Mas não fora dagom quem trouxera
a vitória sobre Sansão. Ele mesmo, o próprio Sansão, permitira que uma
prostituta, que já várias vezes demonstrara que o estava testando, descobrisse
todo o seu coração, e tudo isso depois de ter desprezado várias vezes o
privilégio que lhe fora confiado.
Não foi dagom que venceu, foi
Sansão que perdeu.
O dagom não fez nada, as escolhas
do próprio Sansão levaram-no ao fim que teve.
Isso nos ensina que nós podemos
ser os nossos maiores e mais mortais inimigos. Nossas escolhas levianas e
irresponsáveis têm conseqüências sobre nós mesmos e sobre os nossos. Que o
Senhor nos ajude a fazer escolhas sábias, responsáveis e reverentes, para que
desfrutemos da plenitude da vitória sobre os filisteus.
8) Outra situação que me salta
aos olhos é o clamor final de Sansão. Mesmo quando o homem vai fazer a coisa
certa e clamar ao Senhor, ele o faz por um impulso de vingança (Juízes 16:28).
Embora tenha esse tom egoísta, o clamor final de Sansão parece ser muito
sincero e sofrido e o Senhor o escuta e o fortalece novamente.
Isso demonstra que o Senhor nos
ouve e nos usa apesar de nossas falhas e fraquezas.
Como é maravilhoso nosso Deus!
A história de Sansão tem ainda
milhares de outras observações que podem ser feitas, por ser uma narrativa
muito rica em detalhes e em lições para nós. Mas, por meio de uma análise mais
detida podemos perceber o declínio moral e espiritual de uma nação inteira.
Declínio este que se reflete no caráter do 12º juiz de Israel.